Ascensão do digital movimenta reinvenção dos jornais impressos

O Teresinadiario.com conversou com Nilsângela Cardoso, pesquisadora da História da Imprensa, que comentou sobre o cenário do jornalismo impresso na atualidade


Ascensão do digital movimenta reinvenção dos jornais impressos Foto: Reprodução Agência Brasil

Um hábito antigo que milhares de pessoas mantinham era o de aguardar a chegada do jornal à porta toda manhã para saber as notícias mais quentes do dia anterior. Aos poucos, essa prática foi sendo abandonada com o avanço da Internet e do consumo de conteúdo jornalístico de forma digital. Na última década, uma transformação dos hábitos de consumo de conteúdo já vinha afetando os jornais do Brasil – e de todo o mundo – e teve uma aceleração durante a pandemia da covid-19. 

Com isso, as medidas de redução de circulação e a crise econômica agravada pela pandemia fizeram com que a distribuição dos jornais impressos no Brasil, que já vinha em uma curva de queda, caísse ainda mais. No último fim de semana, o jornal Meio Norte distribuiu a última edição impressa após quase três décadas circulando diariamente no Piauí e no Maranhão, migrando integralmente do formato impresso para o digital.

Há algum tempo, o jornal Diário do Povo anunciou a venda do seu veículo impresso e, pouco depois, encerrou também as suas atividades. No Piauí, fica apenas o jornal O Dia, que é o mais antigo veículo de comunicação, com 73 anos de existência. O Teresinadiario.com conversou com Nilsângela Cardoso, pesquisadora da História da Imprensa, que comentou sobre o cenário do jornalismo impresso na atualidade.

Nilsângela Cardoso, pesquisadora da História da Imprensa / foto: Camilla Menezes - Teresina Diário

“Acredito que a migração do impresso para o online vem mais para agregar. A gente fala que a internet impactou diretamente o impresso, mas o impacto no impresso vem de muito antes, desde o século 19. Veio um impacto maior com o rádio, porque se achava que o rádio acabaria com o impresso e isso não aconteceu. Depois vem a TV e, novamente, foi decretado o fim do impresso, e ele acabou se reformulando. E com a chegada da internet, se reformulou mais uma vez. O que eu observo, de uma maneira positiva, é que o impresso criou novas estratégias de sobrevivência, assim como estratégias para atrair novos públicos, porque é um público que hoje está usando, cada vez mais, os dispositivos móveis”, observou a pesquisadora.

Em um mundo acelerado, um dos maiores desafios que o jornal impresso vive atualmente é a instantaneidade da concorrência. Enquanto as informações de uma segunda-feira só seriam veiculadas na terça através dos papéis, os portais de notícia online, a TV e o rádio as divulgam no mesmo dia, ou, às vezes, até minutos depois de acontecerem, por possuírem uma tecnologia que oferece uma facilidade maior para isso. A também professora da Universidade Federal do Piauí (UFPI), no entanto, analisou esse cenário como uma forma dos jornais impressos se reinventarem e ressignificarem o seu modo de produção.

“É fato que existe essa diferença de conteúdo, mas quando a gente olha do ponto de vista de uma análise entre pesquisadores, se coloca que há uma necessidade do próprio impresso se ressignificar no sentido do conteúdo que ele apresenta. Em que termos? Trazer pautas mais interessantes, mais aprofundadas, trazer um corpo de profissionais mais qualificados, rever a questão das matérias e do conteúdo que está publicando. (...) É lógico que é preciso rever a estrutura, mas, ainda assim, o impresso vai ter o seu atrativo, como a diagramação, a fotografia, as cores, a forma que você cria a primeira página e o seu diálogo com o resto das páginas, os cadernos que vão aparecendo”, pontuou Nilsângela.


Apesar de muitos jornais impressos Brasil afora terem se reinventado, a pesquisadora relembrou ainda sobre a dificuldade de manutenção das empresas que escolheram continuar a noticiar as informações através dos papéis. De toda forma, os desafios enfrentados com a mudança do “fazer jornalístico” não foram suficientes para encerrar a tradição de ser informado ao folhear algumas páginas.

“A gente tem um público-leitor muito interessado no impresso, ou aquele que vem de uma tradição de ir às bancas de revista comprar um jornal, ou receber o seu jornal em casa por causa dos assinantes. É interessante a gente entender que o impresso precisa sobreviver, a empresa precisa sobreviver. Quando falamos desse caminho, dessas reformulações, é preciso entender o ponto de vista do impacto econômico, em termos publicitários, em termos de financiamento, que é difícil manter um jornal impresso. Se pensava que montar uma tipografia era só pegar um tipógrafo, um maquinário e imprimir. Mas não. Tem um custo alto. Tem que ter o papel, a tinta, o maquinário, o conjunto de profissionais para manter esse jornal, para além da periodicidade. (...) O impresso continua sendo importante no sentido de um lugar e de uma tradição”, finalizou.

Para conferir a entrevista na íntegra, acesse o canal do Teresina Diário no Youtube.



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